Entre 1988 e 2022 os estados da Amazônia Legal desmataram, juntos, 9,48% do território, somando um total de 481.844 km2, conforme dados do INPE.(1)
Esse valor significa um território maior do que a Alemanha (356.733 km2), o Japão (377.975 km2) ou a Suécia (450.295 km2).
Em números absolutos o estado que mais desmatou a Amazônia entre 1988 e 2022 foi o Pará, com 166.753 km2, seguido do Mato Grosso, com 152.057 km2 e Rondônia, com 66.135 km2.
Contudo, quando calculamos a taxa de desmatamento, considerando os valores proporcionais ao território dos estados as posições no ranking se invertem.
Por esse critério, Rondônia é o estado campeão de desmatamento, com 27,82% do seu território desmatado entre 1988 e 2022. O Mato Grosso fica em 2º lugar, com 16,84% e o Pará em 3º, com 13,38%.
Nesse período de 35 anos o pico do desmatamento ocorreu nos anos de 1995 e 2004. Em 2004 o estado do Mato Grosso desmatou impressionantes 11.814 km2 de floresta – até hoje, esse é o recorde histórico de área desmatada por um estado em apenas 1 ano.
Rondônia (4.730 km2) e o Pará (8.870 km2) também tiveram seus picos de desmatamento em 1995 e em 2004, respectivamente.
A partir de 2005 houve uma queda brusca no tamanho das áreas desmatadas, ano a ano, até que os números voltaram a crescer, entre 2010 e 2012. Mas, desde 2019 as altas se acentuaram bastante, com alguns estados, como o Pará, atingindo em 2021 (5.238 km2) valores de desmatamento que já tinha atingido 20 anos antes (5.237 km2).
Outra notícia ruim é o fato de que desde 2017 o desmatamento cresce consistentemente no Amazonas, sem recuar em nenhum momento. Embora seja o maior território da região, o Amazonas possui a maior parte da floresta preservada pelas dificuldades de acesso ao interior por terra.
Mas, as fronteiras do desmatamento estão avançando em áreas a partir de onde as estradas federais conseguem chegar. Cidades como Lábrea, Humaitá e Apuí formam os postos avançados de uma linha que evolui do sudoeste e do leste para o interior do Amazonas, estendendo o avanço da soja e da criação de gado.
Esse processo de expansão da fronteira do desmatamento ocorreu em Rondônia mais cedo, ainda no fim dos anos 1980. Ele está se acentuando no Acre, atravessado pela mesmo rodovia federal BR-364 que conecta Rondônia ao Centro-Oeste e a tendência é que cresça em direção ao Sul e ao centro do Amazonas.
As cidades que desmataram a maior quantidade de território entre 2001 e 2022 estão nos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia.
É importante lembrar que muitas dessas cidades amazônicas possuem dimensões territoriais gigantescas, o que permite que imensas áreas de proteção ambiental integral fiquem praticamente desprotegidas por instituições locais. Sem o devido suporte do Governo Federal, é inviável controlar a aplicação da legislação ambiental em muitas dessas áreas.
Altamira, no Pará, por exemplo, possui uma área de 159.482 km2 e é a 1ª colocada no ranking do desmatamento. Para se ter uma ideia de quão extenso é o território de Altamira, a cidade de São Paulo, com seus 20 milhões de habitantes, possui uma extensão territorial de apenas 1.521 km2.
O Pará tem o maior número de cidades na lista das 15 maiores desmatadoras da floresta amazônica – são 9, no total. Mato Grosso e Rondônia 2, e o Amazonas, apenas 1.
A 2ª colocada no ranking do desmatamento é Porto Velho, a capital de Rondônia. O território de Porto Velho, contudo, é significativamente menor do que o de Altamira – 34.090 km2.
Entre 2001 e 2022 Altamira desmatou 9.866 km2 de floresta, enquanto Porto Velho desmatou 8.286 km2. Quando analisamos os valores proporcionais ao tamanho de seus territórios, contudo, Porto Velho desmatou 24,30%, enquanto Altamira desmatou 6,18% de área de floresta amazônica, em seus respectivos limites territoriais.
A posição de Porto Velho no ranking do desmatamento proporcional ao seu território reflete a posição do estado de Rondônia no mesmo ranking entre estados. Mas, existem cidades com taxas bem mais elevadas (entre aquelas que mais desmatam, em km2 totais).
Considerando apenas as cidades com mais de 10.000 km2 de dimensão territorial, esse é o caso, por exemplo, de Pacajá e Novo Repartimento, no Pará, que desmataram 47 e 36,57% de seus territórios entre 2011 e 2022. Nova Mamoré, em Rondônia, vem logo atrás e desmatou 30,39% de seu território, no mesmo período.
Notas
(1) O programa PRODES registra as taxas de desmatamento na Amazônia desde 1988. Somente são contabilizadas, anualmente, as áreas desmatadas maiores do que 6.25 hectares. Ao fim do processo de análise e consolidação das imagens captadas por satélite os dados são registrados em km2 de áreas onde foi detectado o corte raso em área de floresta. Esse dado, que o INPE chama de “taxa”, é estimado a partir dos incrementos de desmatamento identificados em cada imagem de satélite – ou seja, o satélite identifica o aumento do corte em determinada área e esse valor (acima de 6.25 ha) é somado para compor a taxa anual em determinada unidade da federação.