A luta invisível das mulheres em “A metade do céu”

Giovanna Enes Costa

A capa estampa os olhares de diferentes mulheres, em letras garrafais, o título “Metade do céu – Transformando a opressão em oportunidades para mulheres do mundo todo”. No livro, a luta invisível das mulheres é descrita de forma impactante e única.

Esse é o livro que me mostrou o lado feio do mundo, apesar de ter uma noção, nada me chocou tanto como as histórias narradas nele.

Não é um livro para lazer, é uma leitura pesada, que impressiona o leitor e é necessário ter certa estabilidade mental para conseguir passar pelas inquietantes palavras.

Ao narrar a vida dessas mulheres, os autores transmitem emoção em cada palavra escrita. Isso se deve, também, às imagens e os depoimentos que colaboram com o texto.

As histórias são diversas – vítimas de tráfico humano, prostituição forçada, estupros, violência doméstica, mutilações – mas, cada uma é seguida por outra de superação, e as vezes, a decadência novamente.

Histórias de opressão e redenção

Um dos casos que mais me chamou atenção foi o da cambojana Momm. Quando Nicholas Kristof (um dos autores do livro) a encontrou ela estava à beira de um colapso nervoso – “uma hora estava rindo e contando piadas, e na outra desabava em soluços e raiva”.

Prostituta há cinco anos, depois de fugir de casa e ser vendida a um bordel, os pesquisadores negociaram com o “dono” de Momm, que a vendeu por US$ 203. Eles a levaram para casa, onde foi bem recebida. Nos dias seguintes ela telefonou várias vezes aos seus salvadores para dar notícias, como “Alugaram a barraca ao lado da minha mãe e começarei a trabalhar lá amanhã. Tudo está indo bem. Nunca vou voltar a Poipet”. Porém, ela voltou, voluntariamente, ao bordel.

Como várias meninas que trabalham nesses lugares, Momm, estava viciada em metanfetamina. Muitas vezes, os donos desses lugares viciam as mulheres para que elas fiquem submissas e dependentes. Esse caso ficou marcado na minha memória, porque, a crueldade com Momm foi tão grande, que tiraram até mesmo, a esperança e a vontade de ter uma vida sem abusos.

A difícil luta invisível contra O machismo estrutural

O machismo estrutural é bastante comentado no livro, nele vemos como os homens são a parte forte e influente dessas sociedades, onde muitas mulheres são subjugadas, abusas e torturadas por eles.

A realidade mostrada é a de policiais homens que sabem e frequentam bordéis com meninas – menores de idade – traficadas e obrigadas a se prostituirem; que são coniventes com mutilações e abusos de maridos, país, irmãos e tios, ou seja, as pessoas que deveriam protegê-las, são os primeiros a mostrar a crueldade de uma sociedade feita por homens e para homens.

Em estudo feito na China, por exemplo, descobriu-se que anualmente, cerca de 39 mil meninas morriam, porque os pais não lhes davam os mesmos cuidados médico e atenção que ofereciam para filhos homens, sendo isso apenas no primeiro ano de vida.

Até quando a vida de uma mulher vai valer menos que a de um homem?

Até quando precisaremos lutar por garantias básicas em nossas vidas, como o direito de estudar, votar, ter poder de falar, trabalhar e ser remunerada adequadamente pelo nosso serviço?

Infância em risco permanente

A negligência sofrida por mulheres não para na infância.

O capítulo 07 se intitula “Por que as mulheres morrem no parto?”, ele se inicia com a história de Prudence Lemokouno, no sudeste de Camarões.

Após complicações no parto teve que ser levada a um hospital, onde o médico Pascal Pipi, constatou a necessidade de uma cesariana de emergência. No entanto, ele queria US$ 100 para realizar a cirurgia, o marido e os pais de Prudence disseram que só podiam juntar US$ 20, o médico tinha certeza de que a família estava mentido, pois um dos primos da moça tinha um telefone celular.

A questão é que, se Prudence fosse homem, provavelmente, a sua família teria vendido até o último de seus bens para reunir o dinheiro necessário para a cirurgia.

Uma obra para mudar sua visão do mundo

Apesar de ter ganhado o Prêmio Pulitzer, eu nunca tinha ouvido falar desse livro.

Um dia encontrei uma recomendação dele, em um post no Instagram, e, com certeza, foi um dos melhores que já li. Por isso, recomendo fortemente essa obra, que apesar de não ser famosa, como deveria ser, vai mudar a sua visão de mundo. Assim como mudou a minha.

 

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